Como
promover o sucesso da aprendizagem do aluno e a sua permanência na escola?
Unidade
1 – Ensinar e aprender na escola: o que sabemos hoje?
Unidade
2 – Trabalho pedagógico: aí está o foco!
Unidade
3 – Prática pedagógica: todo cuidado é pouco!
Unidade 4 – Avaliação: prática a favor dos
alunos ou contra eles?
Textos trabalhados:
A trilha do bezerro
Certo dia, um bezerro que estava perdido atravessou
uma floresta virgem para voltar a seu pasto. Sendo um animal irracional, abriu
uma trilha tortuosa, cheia de curvas, que subiam e desciam colinas. No dia
seguinte, um cão que passava por ali usou essa mesma trilha torta para
atravessar a floresta. Depois, foi a vez de um carneiro, líder de um rebanho,
que fez seus companheiros seguirem pela trilha sinuosa. Mais tarde, os homens
começaram a usar esse caminho; entravam e saíam, viravam à direita, à esquerda,
abaixavam-se e se esquivavam de obstáculos. Tanto sacrifício os fazia reclamar
e praguejar, até com um pouco de razão, mas não faziam nada para mudar o
caminho. Depois de tanto uso, acabou virando uma estradinha, onde pobres
animais, cansados sob cargas pesadas, eram obrigados a percorrer em três horas
uma distância que poderia ser vencida em, no máximo, uma hora, caso a trilha
não tivesse sido aberta por um bezerro. Muitos anos se passaram e a estradinha
tornou-se rua principal de um vilarejo e, posteriormente, avenida principal de
uma pequena cidade. Logo, transformou-se no centro de uma grande metrópole e
por ela passaram a transitar, diariamente, milhares de pessoas, seguindo a
mesma trilha torta feita pelo bezerro centenas de anos antes.
A
professora de horizontologia
Narrador
- Já tinha parado a chuva e Clara Luz estava louca que a Gota voltasse.
Felizmente
a Fada-Mãe veio com uma novidade:
Fada-Mãe
- Minha filha, hoje vem uma professora nova. Você vai ter a sua primeira aula
de horizontologia.
Clara-Luz
- O que é isso?
Fada-Mãe
- É saber tudo sobre o horizonte. As crianças lá da Terra aprendem geografia.
As fadas aprendem horizontologia.
Clara-Luz
- Acho que vou gostar dessa aula.
Narrador
- O sininho da porta bateu: era a professora que vinha chegando. Clara Luz
correu ao encontro dela.
Clara-Luz
- Bom dia! Estou louca para aprender tudo sobre horizontes!
Professora
- Que bom! Gosto de alunos assim entusiasmados.
Narrador
- A professora era uma fada muito mocinha, que tinha acabado de se formar em
professora de fadinhas. Sabia horizontolologia na ponta da língua.
A
Fada-Mãe ofereceu um cafezinho de pó-de-meia-noite e depois deixou Clara Luz e
a Professora sozinhas.
Professora
- Muito bem. Primeiro quero ver o que você já sabe.
Sabe
alguma coisa sobre o horizonte?
Clara-Luz
- Saber, mesmo, não sei, não. Mas tenho muitas opiniões.
Professora
- Opiniões?
Clara-Luz
- É, sim. Quer que diga?
Professora
- Quero.
Clara-Luz
- A minha primeira opinião é que não existe um horizonte só. Existem muitos.
Professora
- Está enganada. Horizonte é só um!
Clara-Luz
- Eu sei que todos acham que é só um. Mas justamente vou escrever um livro,
chamado Horizontes Novos.
Professora
- Você vai escrever um livro?
Clara-Luz
- Vou. Eu acho que criança também pode escrever livros, se quiser, a senhora
não acha?
Professora
- Acho, sim.
Clara-Luz
- Pois nesse livro eu vou dizer todas as minhas idéias sobre o horizonte.
Professora
- São muitas?
Clara-Luz
- Um monte. Por exemplo: eu acho que nós duas não devíamos estar aqui.
Professora
- Ué! Devíamos estar onde, então?
Clara-Luz
- No horizonte, mesmo. Assim, em vez da senhora ficar falando, bastava me
mostrar as coisas e eu entendia logo. Sou muito boa para entender.
Professora
- Já percebi.
Clara-Luz
- Tenho muita pena das professoras, coitadas falam tanto!
Professora
- É verdade.
Clara-Luz
- Então, se está de acordo, por que não vamos para o horizonte já?
Professora
- Não pode ser!
Clara-Luz
- Por quê?
Professora
- Não sei se é permitido... Não foi assim que eu aprendi horizontologia no
colégio...
Clara-Luz
- Por isso é que a senhora é tão magrinha.
Professora
- Hein?
Clara-Luz
- Coitada, levou anos aprendendo horizontologia sentada!
Narrador
- A professora levantou-se de repente:
Professora
- Sabe de uma coisa? Vamos!
Narrador
- Clara Luz ficou radiante!
Clara-Luz
- Eu sabia que ia gostar dessa aula.
Narrador
- E foram.
Clara-Luz
- Viu como é fácil ir?
Professora
- É mesmo. Nunca pensei que fosse tão fácil!
Narrador
- Ela passava o dia dando lições para sustentar a mãe, uma fada velhinha, que
já não podia trabalhar nem fazer mágicas. Ganhava vinte estrelinhas por aula e
não tinha tempo para passeios.
Agora,
com o ar puro lhe batendo no rosto, estava até mais coradinha.
Clara-Luz
- A senhora é bem bonita, sabe?
Professora
- Acha?
Narrador
- Nisso, chegaram.
A
Professora foi a primeira a pular sobre o horizonte. Estava tão alegre que se
esqueceu que era professora e saiu aos pulos, com os cabelos voando:
Professora
- Viva! Estou no horizonte!
Narrador
- Clara Luz foi atrás, também muito contente.
Um
navio ia justamente aparecendo no horizonte.
Clara-Luz
- Aproveite!
Narrador
- A Professora aproveitou. Segurou o navio na mão, como se ele fosse um
brinquedo.
O
navio ia cheio de gente, que estava voltando da Europa, mas ninguém percebeu o
que estava acontecendo. Só ficaram todos alegres. E o comandante resolveu dar
um baile.
A
Professora, em criança, nunca tivera brinquedos, porque era muito pobre.
Ficou
encantada!
Professora
- Olhe só, que gracinha! Estão dançando, lá dentro!
Narrador
- Ela se sentia como as crianças, quando vão ao teatrinho de bonecos.
Ficaram
as duas se divertindo, muito tempo, com aquele teatrinho.
Depois,
a Professora colocou o navio no mar, com tanto cuidado que não levantou a menor
ondinha.
E o
navio, assim que saiu do horizonte, virou navio grande de novo, cheio de gente
grande.
A
Professora, agora, estava coradíssima e como os olhos brilhando. Ter um
brinquedo tinha feito um bem enorme a ela.
Clara-Luz
- Vamos brincar de escorregar no arco-íris?
Narrador
- Dessa vez a Professora nem se lembrou de pensar se seria permitido, ou não.
Foi
logo subindo por um lado do arco-íris e escorregando pelo outro, com os braços
para o ar!
Professora
- Lá vou eu!
Narrador
- No princípio, como não tinha prática, escorregava muito desajeitada e Clara
Luz
morria de rir.
Mas
logo se habituou e mostrou que tinha um jeitinho louco para escorregar no
arco-íris. Escorregava de costas, de frente, em pé e até dançando.
Clara
Luz fazia tudo para imitá-la, mas a verdade é que não conseguia tão bem.
Tinha
acontecido uma mágica com o cabelo da Professora: agora estava dividido em duas
tranças, igualzinho ao que ela usava quando tinha dez anos.
Clara
Luz estava notando isso, mas não disse nada. A Professora ainda não tinha
percebido o que lhe acontecera.
Clara-Luz
- Agora a senhora não quer dar uma espiada nos outros horizontes?
Professora
- Que outros, querida? Só existe um.
Clara-Luz
- Então olhe para lá!
Narrador
- A Professora, que só estava olhando para cá, concordou em olhar para lá, já
que Clara Luz fazia questão.
E
viu mais de dez horizontes, um depois do outro.
Professora
- Não é possível, Clara Luz! Estou vendo dez!
Clara-Luz
- É? Então a senhora é formidável em horizontologia, mesmo. Eu só estou vendo
sete.
Professora
- Mas não é possível, Clara Luz! Será que não estamos sonhando?
Clara-Luz
- Claro que não. Está sonhando é quem só vê um.
Narrador
- Lá longe, na Via Láctea, a Fada-Mãe tocou o sininho, para avisar que já tinha
acabado a lição.
Clara
Luz e a Professora voltaram voando, rindo da cara das fadas que abriam as
janelas e comentavam uma com as outras:
"Que
professora, essa! Onde já se viu dar lição, assim? Brincando no meio da
aula!"
Narrador
- A Fada-Mãe estava na porta, esperando por elas.
Fada-Mãe
- Onde estiveram?
Clara-Luz
- No horizonte, mamãe. Essa professora não ensina falando, não. Ela ensina
indo.
Narrador
- A Professora encabulou: só agora reparara que estava de trancinhas. Que iria
pensar a Fada-Mãe?
Mas
a Fada-Mãe não era boba: foi lá dentro e, em vez de vinte estrelinhas, trouxe
trinta, para o pagamento.
Fada-Mãe
- Muito obrigada. Nunca vi minha filha gostar tanto de uma lição.
Narrador
- A Professora não quis receber.
Professora
- Não vou cobrar nada por essa aula. Eu é que aprendi muito com a sua filha.
Clara-Luz
- Não acredite, mamãe! Ela é a professora melhor que eu já tive.
Narrador
- A Fada-Mãe já tinha percebido isso. Insistiu em pagar as trinta estrelinhas e
pediu à Professora que não deixasse de voltar, duas vezes por semana.
ALMEIDA,
Fernanda Lopes de. A fada que tinha idéias. 16. ed. São Paulo: Ática, 1989.
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